O nervoso miudinho

Não sei por que volto a escrever neste blog.
Sei que senti um nervoso miudinho e uma inexplicável vontade de dizer não sei quê.

Sei que ninguém vai ler isto, o que não me demove.

Penso que o mais importante na vida é sermos capazes de sermos o que somos, nem que seja só para nós, de forma secreta. Quando nem disso somos capazes, então ainda, ou já, não existimos. Acho mesmo que muitos de nós, se calhar eu próprio, pensam que existem e não existem de facto. Andam como bolas de bilhar entre si e o Mundo. Eu acho que o melhor teste de que se é passa por enfrentar alguém com quem não concordamos e discordar frontalmente, de preferência se estiver "acima" de nós: professor, irmão mais velho, pessoa brilhante que tem sempre razão, egos de direita absolutamente convencidos ou de esquerda...Mas acho que o maior teste é dizer na cara do cônjuge o que pensamos sobre o que disse, é, ou forma como agiu, na circunstância de se ter esperança de dar uma queca a breve trecho, e dessa conversa poder redundar na perda desse prémio. Esse é um teste hercúleo e definitivo sobre a nossa capacidade de ser. Para ser é preciso desagradar. Isto é capaz de ser uma lei.

Desagradar e manter a paz. Talvez esse seja o maior desafio das nossas vidas. Ganhar gosto em ser desagradável (só) o suficiente para se querer sê-lo sempre que é necessário. Sem recurso à obscenidade- que nos fere intimamente,porrque se trata de uma íntima imitação da força em forma de invocação inútil. A obscenidade é imitação no estado puro. É a criança pequena que pega nos grandes sexos dos mastodontes-deuses-adultos e os ostenta como sendo seus.