domingo, 12 de abril de 2009

Fornos solares, novidade??? Ele há coisas...



"Um forno solar numa caixa de cartão que custa apenas cinco dólares (3,7 euros) a fabricar ficou em primeiro lugar no FT Climate Change Challenge, prémio internacional de ideias para lutar contra as alterações climáticas, foi hoje revelado. Jon Bohmer vai investir os 75 mil dólares (56,6 mil euros) a testar a “Caixa Quioto” em dez países e ajudar dois mil milhões de pessoas nos países mais pobres a deixar de usar lenha para cozinhar.
Esta competição climática, que recebeu 300 projectos candidatos, teve o apoio financeiro do jornal “Financial Times” e da empresa Hewlett Packard.


“Estamos a salvar vidas e árvores”, explica este norueguês à frente da Kyoto Energy, um negócio familiar sediado no Quénia, em comunicado. “Duvido que haja outra tecnologia que consiga ter tanto impacto com tão pouco dinheiro”.A caixa de cartão, transformada em forno solar, pretende salvar as crianças que todos os anos morrem por beberem água não potável, permitindo às suas famílias ferverem essa água para matar os germes. Além disso, reduz os riscos de doença causados pela inalação de fumo, ao evitar a queima de lenha. Bohmer estima que, anualmente, sejam poupadas duas toneladas de carvão por família."
Agora pergunto eu: o que andaram os cientistas e empresários deste mundo a fazer e, acima de tudo, o sistema capitalista, para que aquilo que já é feito massivamente nas escolas, em casas particulares, etc.- a construção e utilização de fornos solares- seja agora visto como o milagre de multiplicação dos pães?
É desconcertante que, se tal "novidade" pode transformar-se numa revolução, por que o mastodonte das Nações Unidas, o colosso EUA e a civilizada UE o não apregoaram já? Por que razão as coisas acontecem desta forma, à margem das instituições financiadas principescamente para encontrar soluções? Quantos problemas como este, passíveis de soluções simples, não são resolvidas, porque estas mega-instituições se encontram empenhadas em prioridades mais importantes, como seja abrir caminho para multinacionais e desmantelar serviços públicos?
Não gosto da paranóia anti-capitalista, mas, a par do Microcrédito, esta é daquelas soluções que, a aplicar e a obter-se os resultados espectaculares do Microcrédito, nos deve fazer pensar sobre o funcionamento dessa catedrais de burocracia e lobbyng financiadas pelos nossos impostos, assim como sobre as suas finalidades. É que essa agenda política de subserviência aos interesses imediatos do capital não é apenas uma agenda de influência restrita: cria também um movimento sócio-cultural obsessivo em torno da febre do lucro ou do salário, para mais quando o segundo é posto à míngua em favor das supostas virtualidades do primeiro, com as desigualdades que todos reconhecemos. Os verdadeiros problemas do mundo ficam então para trás, cobertos com uma camada cosmética de boas-intenções e frases feitas.
E que tal dar um pouco mais de poder e recursos a quem prossegue políticas públicas que visem o bem comum, ao invés deste mecenato aos bochechos, misto de caridade e publicidade, criando os mecanismos de controlo necessários, e os estímulos financeiros para quem atinge bons resultados?
Mas não convém funcionários públicos independentes e competentes. Convém antes as santas qualidades do mercado e do espírito de iniciativa privada...Estamos a vê-lo, todos os dias nos números do desemprego, na fuga ao fisco, nas deslocalizações, na destruição ecológica e cultural...


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