sábado, 2 de maio de 2009

Requiem por um medronheiro


O meu amigo Ricardo Furtado tinha um medronheiro na sua magnífica propriedade de Vale de Lobos, enquadrado por um mosaico diverso de mato, bosque mediterrânico, pastos e terras lavradias. O meu amigo levava sempre os visitantes a ver o fantástico medronheiro, uma verdadeira raridade, pelo porte, idade, pelo orgulho de se achar protector e guardião de semelhante tesouro, espécie de totem de uma família natural mais alargada.




O medronheiro já não existe. Em nome da prevenção dos incêndios, foi cilindrado por uma máquina que "limpava" o "mato" inútil, como se sabe, o mato é sempre inútil, assim como tudo o que vive lá dentro, como sejam os medronheiros, o mato basicamente provoca incêncios e era bom é que não houvesse mato nenhum e, por exemplo, as florestas fossem limpinhas , apenas com árvores e terra à vista, e se até fosse possível, cimentar tudo e deixar apenas uns buraquinhos para os troncos sairem, o mato é bom para criar coelhos para caçar, mas também se criam lá as raposas e outro bichos inúteis como as cobras, o mato já nem dá para lenha porque ninguém está para isso,


por isso é bom arrasar o mato, tenho uma buldozzer e sou anti-mato, o mato que enche o mundo de combustível perigoso, por isso levo isto tudo à frente, incluíndo um medronheiro que teme em resistir ao meu engenho viril, fazer-me recuar, andar para a frente e para trás, raios o partam, anda lá monte serradura mal cheirosa! raios ta partam, p.q.p!, anda!anda!...já está! p.q.p o medronheiro, raios o tivessem partido, mas se caisse um raio neste mato ainda provocava algum incêndio...
ao fim do dia ganhei o meu e limpei o futuro desta gente das labaredas sequiosas da riqueza alheia...o dono desta propriedade vai ficar satisfeito! O senhor presidente da junta também vai receber muitos elogios e ogoverno vai ficar contente com esta limpeza toda. É pena é isto tudo não levar aqui uns eucaliptos...Ah se fosse eu...




1 comentário:

Mayatara disse...

Nem sei que dizer. Estas coisas deixam-me sem palavras. Desejo que a humanidade deixe de ser estúpida o quanto antes.